Uma vida dedicada ao choro
qui, 17 de outubro de 2013 • 14:24 •
Cultura
Ele respira música, transpira música e tem a música correndo pelas veias. É genética, talento, estimulo, é vontade. Maurício Carrilho é a própria definição do choro no Brasil. Instrumentista, arranjador, produtor, carrega na memória as rodas que participava quando criança em sua casa no subúrbio do Rio de Janeiro. Outra parte das lembranças traz o treinamento de percepção e tonalismo recebido desde a primeira infância de seu pai Álvaro e do tio Altamiro Carrilho, que batiam em copos e garrafas para o pequeno aprendiz responder as notas.
“Eu tive herança de família, fui estimulado e quis”, diz Maurício, que aos 9 anos de idade começou a estudar violão. O choro sempre fez parte da sua vida, mesmo quando era estudante de medicina – curso que abandonou no terceiro ano para se dedicar integralmente a música. Fez parte de alguns conjuntos, gravou CDs e viajou pelo mundo difundindo o gênero.
Há 13 anos, Maurício criou com alguns amigos a Escola Portátil, um programa de educação musical voltado para a capacitação e profissionalização de músicos por meio da linguagem do choro, que funciona dentro da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro). É essa estrutura que chega a Leme entre os dias 20 e 26 de outubro. É quando acontece a III Semana Seu Geraldo, um festival dedicado ao choro, com cursos e apresentações. Na entrevista a seguir, Carrilho, que já está na cidade para o evento, conta um pouco da sua história.
Qual o primeiro instrumento que estudou? Quando foi?
Maurício Carrilho: Sempre quis estudar violão, comecei aos 9 anos de idade. Muitas vezes queria jogar futebol na rua, mas sabia que tinha que cumprir um horário de estudo do instrumento em casa. Tinha esse sacrifício, porque aprender um instrumento dá trabalho, exige rotina. O prêmio por isso vem logo em seguida com o reconhecimento.
Frequentava rodas de choro quando menino?
MC: Quando eu tinha 8 anos, minha família mudou para o subúrbio do Rio em uma casa com um grande quintal. Foi aí que meu pai começou a fazer roda de choro e eu, que já começava a estudar violão, participava junto com os melhores músicos da época, grandes mestres. Depois que me profissionalizei as rodas continuaram e foi muita gente, inclusive cantores como Elisete Cardoso, Nara Leão, Nana Caimi.
Quando a música virou profissão na sua vida?
MC: Quando estava com 20 anos conheci o Rafael e a Luciana Rabello no bar Suvaco de Cobra, na Penha, onde o pessoal se reunia para tocar choro. Eles me convidaram para o conjunto deles, Os Carioquinhas. Acabei desistindo da medicina. Isso foi em 1977 e nesse mesmo ano gravamos um disco na Som Livre. Começamos a acompanhar a Nara Leão e o Dominguinhos em um show que viajou o Brasil todo. Com dois anos de carreira na música, começamos a tocar com Radamés Gnattali, importante compositor de música de concerto, erudita e arranjador. Tocamos com ele por sete anos em um conjunto que chamava Camerata Carioca.
Como foi a transição de conjuntos?
MC: A base dos Os Carioquinhas formou a Camerata que tinha como solista o Joel Nascimento e o Radamés como diretor musical. A Camerata iniciou uma abordagem diferente do choro. A Camerata era usada pelo Radamés como um conjunto de câmera. A organização do grupo era semelhante a de um conjunto de câmera de música erudita. Um trabalho que revolucionou a linguagem do choro. O Radamés faleceu em 1987 e a gente continuou o trabalho com outro nome: Joel Nascimento e Sexteto. Era a continuação da linguagem da Camerata. Seguimos até o início dos anos 1990. Até a metade dos anos 1990 também toquei no O Trio com Pedro Amorim e Paulo Sérgio Santos, quando gravamos um disco na França.
Hoje em dia, qual a agenda de Maurício Carrilho?
MC: Procuro convidar músicos da geração mais jovem para tocar comigo, para mim foi importante ter tocado com Radamés, Joel, Altamiro, músicos mais experientes. Também precisamos da energia da moçada que está começando, isso impulsiona o trabalho. A mistura da experiência com a juventude sempre dá certo.
Fonte: Rafaela Chignolli/Secom
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