"Quero entrar andando nos Jogos Olímpicos Rio 2016", afirma Lais Souza
qua, 17 de dezembro de 2014 • 10:03 •
Esportes
Acompanhada do Diretor Executivo de Esportes do Comitê Olímpico do Brasil, Marcus Vinicius Freire, e do médico Dr. Antonio Marttos Júnior, Lais Souza concedeu entrevista coletiva na tarde desta segunda-feira (15) no Rio de Janeiro.
Entre outros assuntos, Lais falou sobre o fim do tratamento de células-tronco a que foi submetida em Miami, nos Estados Unidos.
De acordo com o resultado dos últimos exames, Lais passou de uma paciente com lesão completa para lesão incompleta, o que foi bastante comemorado pelos médicos. “Quero entrar andando com eles (ginastas) nesses Jogos”, afirmou Lais.
Confira abaixo os principais temas tratados na coletiva:
Dr. Antonio Marttos Júnior (médico do Time Brasil e da Universidade de Miami)
Metade dos pacientes que sofrem uma lesão como a dela, acabam falecendo nas primeiras 24h, pois é uma lesão muito alta, no centro da respiração.
As pessoas simplesmente param de respirar. Se o atendimento não for rápido e efetivo, os pacientes não sobrevivem. Depois das primeiras semanas, mais 20% morrem em decorrência de complicações desse trauma.
Posso dizer que a operação que foi criada para a recuperação da Lais foi única no esporte no mundo. Na primeira hora de atendimento já estávamos com o COB conectado com os doutores João Grangeiro, Barth Green, Osmar Morais e Breno Schorr. Toda uma junta médica voltada para isso.
Desde o momento do acidente, ela perdeu os movimentos, mas teve acesso a tudo de melhor que existe no mundo, inclusive alguns protocolos que ninguém teve.
Ela encarou tudo como grande atleta que é. Ela sabe que o ciclo olímpico tem quatro anos e as conquistas são conseguidas passo a passo. Qual a próxima meta? Qual o próximo objetivo? E ela fez tudo corretamente.
Hoje, 10 meses após o acidente, tenho o prazer de anunciar que os exames feitos depois da 3ª sessão de tratamento com células-tronco, ela converteu de lesão completa para lesão incompleta. Isso demonstra que ela não teve secção completa de medula.
O que ela teve foi uma contusão, um esmagamento. Hoje ela tem sensibilidade. Com essa mudança, ela passa a ter acesso a outros protocolos, inovadores, todos seguindo pedacinhos de vários centros do mundo.
Ela passou a ter uma sensibilidade na região sacral. As vias estão machucadas, mas ela já tem sensibilidade passando até lá embaixo. Ela já tem sensibilidade fina nos pés. Sabemos o potencial dela. Temos muito trabalho pela frente, mas o estímulo está chegando. Temos que continuar trabalhando para vermos até onde vai a recuperação dela.
Lais Souza
Desejos na volta para casa
Queria muito ver meus amigos, sentir a temperatura do Brasil, o clima, e comer algumas coisas diferentes, como pão francês e outras coisas “gordas” (risos). Nos EUA tem restaurante brasileiro, tem tudo, mas aqui é diferente.
Esperança na recuperação
Eu falo bastante com a minha psicóloga. Sou muito positiva. Quanto à minha lesão, ainda tem muita adaptação. Foi mais uma forma de eu aceitar a situação em que eu me encontro hoje e encarar.
Não vai ter o que fazer se eu não encarar essa situação de corpo e alma. Acho que tenho que abraçar e não olhar para trás, com o plano A de voltar a caminhar ou recuperar algum movimento.
Força de atleta
A sensação que tenho ainda é de que sou uma atleta. Tenho que encarar a fisioterapia e o meu corpo da mesma forma que eu encarava antes. De cabeça erguida. Sempre forte. Tentar ter uma alimentação boa.
Parece que paradinha assim não gasto energia, mas gasto sim. Tenho que comer bem, treinar e fazer a fisioterapia. E manter a cabeça boa também.
Jogos Olímpicos Rio 2016
Com certeza me imagino bem próxima da ginástica, que é meu esporte predileto em 2016. É o esporte que eu amo. Quero estar próxima, sim. Ainda brinco com eles que quero entrar andando com eles nesses Jogos. Quero chegar brincando, do jeito que era antes.
Pioneira no tratamento
Sou muito privilegiada por estar nesse tratamento. É inexplicável o quanto me motiva saber que estou dentro desse tipo de tratamento.
E também o fato de saber que isso pode chegar aos brasileiros em algum momento, e pode chegar por mim. Eu fico orgulhosa.
Estar em casa
Estou muito ansiosa. Com certeza eu vou para casa, pois minha família está lá me esperando. Meu pai, meu irmão, minha irmã... A gente ainda está em adaptação para ver onde eu vou ficar, com quem eu vou ficar.
Estou bastante ansiosa para encontrar o pessoal. Minha cidade é pequena, muita gente me conhece, sabe que eu estou com saudade e quero ver todo mundo. É uma ansiedade grande.
Adaptação na volta ao Brasil
Na minha casa ainda não tem muitas mudanças. É uma coisa ou outra que eu vou usar. Por exemplo, uma rampinha para degraus, que eu estava usando em Miami. Provavelmente eu vou usar um carro normal. Vou continuar usando essa cadeira, mas muitas vezes eu vou precisar sair de carro, então devo utilizar uma cadeira normal.
Objetivos e sonhos
Muitos sonhos ainda continuam os mesmos. Hoje, um deles, como eu disse, é voltar a andar e trazer novidades para o Brasil. Mas eu continuo a mesma Lais.
Meu objetivo é trabalhar, evoluir, virar uma mulher mesmo, não sei se de negócios, ou trabalhando com saúde. Conquistando meus sonhos, mas vivendo um dia após o outro, vivendo o presente.
Lei de aposentadoria para atletas
Eu não sei bem em que pé está. Mas quando eu soube fiquei muito feliz. Quando você está passando por uma situação dessas é uma mão que acaba se estendendo para você.Espero que dê certo.
Essa regra de se ter uma lei para os atletas, que não seja só do esporte, faz toda diferença para quem está treinando, quem corre risco, em esportes de muita aventura. Acho que faz toda diferença. É uma segurança para todo mundo.
Hospital nos EUA
Todo mundo sempre foi muito carinhoso comigo. Foi um momento em que eu estava muito sensível, com muita dor, e recebia palavras motivadoras, dizendo para eu levantar a cabeça e seguir em frente. Eu sempre fui muito descontraída, e isso facilitou a convivência.
Palavras de incentivo
Quem passa por esse tipo de problema precisa ter muita paciência para encarar. É um processo lento, doloroso. Você sempre sente alguma coisa, uma dorzinha, um incômodo, mas isso vai melhorando com o tempo.
A melhor notícia que podíamos ter de um tempo para cá é sobre esses estudos de células-tronco e tratamentos, que vêm crescendo cada vez mais. Tem que levantar a cabeça, seguir em frente, pois não está longe a cura. Não perder a esperança.
Parte psicológica
Fiquei bastante tempo no hospital. Foram várias fases. Primeiro, comecei a respirar sozinha, depois comer sozinha, me sentir melhor fisicamente.
Um passinho a cada semana e fui crescendo com isso também. Eu, como pessoa, e fisicamente, conhecendo esse mundo da cadeira de rodas. Descobrindo que ele é rico e tem muita gente e nessa situação.
Sempre fui muito espoleta. Nunca fiquei quietinha no meu quarto. Agora, acho que minha maior dificuldade é encarar essa situação de ficar mais quietinha, de ter o meu canto. Às vezes tenho uns momentos mais difíceis, que eu choro, mas, no geral, estou feliz. Vejo que tem uma luz no fim do túnel e eu não devo desistir. Tenho altos e baixos como todo mundo.
Agradecimento
Agradeço a todos os patrocinadores que têm me ajudado. A Estácio, o Bradesco, o COB, o Consulado do Brasil... todos, que me apoiaram em tudo que precisei. O Dr Marttos, Dr Green, o Marcão. Foi uma grande turminha. Todos ajudando e tenho certeza de que vai terminar tudo bem.
Fonte: Agência Brasil