Lenda do rádio esportivo, José Silvério vive medo mundano

qua, 16 de março de 2016 • 15:45 • Esportes

Três comentaristas de futebol entram numa cabine de rádio do estádio Allianz Parque, em São Paulo. De camisa social branca, terno completo risca de giz e gravata verde-bebê, eles parecem fantasiados de padrinhos do noivo.
 
O radialista, de camiseta despojada azul turquesa, calça jeans e tênis esportivo, recebe seus cumprimentos com um sorriso, aperta suas mãos, diz que está tudo bem. E então, Walter Casagrande Júnior, parecendo um gigante em uma cabine telefônica, se aproxima do radialista com olhar preocupado e pergunta:
 
"Então, Silvério, aquilo é verdade?"
 
Aquilo todo mundo sabe o que é. Eram duas frases publicadas no jornal "Diário de S. Paulo" e no UOL*, três linhas de texto dizendo secamente que, depois de 53 anos narrando jogos de futebol, José Silvério, um dos locutores mais queridos de São Paulo, uma lenda viva do rádio, tinha decidido finalmente se aposentar.
 
À notícia seguiu-se uma avalanche de comoção.
 
Ouvintes ligaram aflitos para a rádio e mandaram e-mails desesperados exigindo que Silvério voltasse atrás. Alguns escreveram e publicaram homenagens, relembrando narrações antigas e dizendo que sem Silvério o rádio não seria mais o mesmo. Colegas de trabalho, fãs, pessoas desconhecidas o procuraram, perguntando se aquilo era verdade.
 
E para todas elas, o radialista respondeu a mesma coisa. Agora, na frente de Casagrande, Caio Ribeiro e Paulo Cesar de Oliveira, os comentaristas engravatados da TV Globo, ele repete seu discurso como uma jogada ensaiada.
 
"Que eu vou parar, isso é óbvio", diz ele. "Quando eu morrer, por exemplo, é claro que eu vou parar de narrar. Quando isso vai acontecer eu não sei. Mas amanhã eu posso ter um ataque. Ou posso ganhar na loteria, e aí vou sair para viajar."
 
Os colegas riem da bravata, mas se apressam a tentar esclarecer as coisas. "Mas o que estava escrito era que você tinha decidido se aposentar no fim desse ano", lembra Caio Ribeiro.
 
"Isso eu não sei de onde tiraram", responde José Silvério e confirma aos amigos, como está dizendo há dias, que não, não decidiu se aposentar e não sabe quando vai fazê-lo.
 
Os engravatados respiram aliviados, trocam mais algumas palavras e apertam as mãos do radialista, se despedindo com um sorriso aberto.
"Você viu?", me pergunta Silvério quando eles já estão longe. "O pessoal ficou louco com essa história."
 
Fonte: Portal BOL - www.bol.uol.com.br

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